25 abril, 2010

Resgate

A verdade é que toda vez que se acaba algo, se começa, imediatamente. Nunca existe um fim de tudo e ela não sabe como não se deu conta dela mesma, antes. Ficava, ali, se afastando, se dividindo do que era pra ser uma nada-a-ver-com-ela pra ele. Não tinha, mesmo, que ser assim. Aí ela se olha, de repente. Não com um espelho, mas com o que sobrara da antiga-ela dentro de si. Ela ainda está bem ali. Lágrimas e desespero mostram que ela está incrivelmente ali. Foi quando ela se deu conta de que ainda existe e que ele se tornara algo irrelevante, como antes quis, mas não se encontrara em lugar nenhum. Ela sabe que não existe posse quando se trata de gente e sabe, também, que ela não mais se pertencia. Queria morar em qualquer coração que lhe permitisse ficar lá dentro... só que, agora, podia ver que ele era tão pouco, tão dele que não poderia ser de mais ninguém. Tantas vezes, e ele não percebeu o quanto é pouco ser só de si. É o que não sabe se doar, nem mesmo pra ela, que estava com as duas mãos estendidas. Ele gostava de construir muros em sua volta, mais pareciam de concreto, mesmo sendo invisíveis e ela perdia a passagem, não conseguia alcançá-lo... e olha que ele estava virado de frente à ela. Aprendera que distância pouco tem a ver com a física e com o alcance das mãos, do cheiro e sim com o que o coração quer enxergar. E o dele pareceu, à ela, cego. Sim, porque um coração que nunca cabe outro alguém só pode ser cego.
Foi por isso que ela olhou pra trás, por isso deixou tudo lá atrás e voltara a usar seus olhos.

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