02 maio, 2010

das verdades que, acumuladas, me escapam

Me permiti cuspir algumas verdades. Então, perdoe o meu olhar distante e meu raciocínio lento. Há muito tempo não bebo, mas não consegui abandonar o hábito de manter o copo em minha mão. Te contei? Continuo segurando o copo para que minhas mãos se mantenham ocupadas e eu pense menos. Daí, quando meus olhos querem chover eu finjo beber. Mas, não vou falar em chuva agora, porque não é hora de chover, ainda. Me contradigo sempre porque se me permiti contar a verdade é porque não importa mais. Sim, tem chovido toda noite quando o silêncio toma conta do quarto e as luzes se apagam. Não entendo como sempre sobra espaço pra pensar e sempre sobra um buraquinho onde a lembrança possa se enfiar. Mas, aí eu ocupo minhas mãos e finjo beber. E me esqueço. Sim, essas coisas ocorrem com frequência. Na maioria das vezes, eu me obrigo a não lembrar, e esquecer da vida e de tudo que existe dentro dela. É aí que saio correndo feito louca e percebo todos os clichês baratos de que quanto mais eu fujo mais eu me encontro. E tem sido em vão tentar fugir. Fugir de mim. Dessa gritaria toda que me dá dor de cabeça. Aí eu fumo. Não, eu não costumo fumar sempre. Mas, gosto de manter as mãos ocupadas. Já devo ter falado sobre isso antes. Outra coisa que me incomoda, é que além da chuva que cai dos meus olhos, acordo de madrugada e ouço a chuva cair lá fora. O que não aguento e levanto pra observar da varanda. Devo confessar, a chuva da noite é bem mais bonita que a que cai no fim da tarde. Ela é calma e silenciosa, com toda a cidade dormindo, como eu gostaria de ser, também. É mania nova, e irritante, essa minha. Mas, é bom. Porque depois que ela passa, eu fico esfregando as mãos, molhadas, uma na outra. Vejo a cidade acordar e corro de volta para o quarto onde está bem escuro e eu posso me esconder de tudo que dói. Então, alguém bate na porta e eu me arrasto e tento repetir a mesma rotina de me alimentar, aguentar o sacolejo do ônibus e engolir chuvas. Quer saber? Eu não aguento mais falar em chuvas, já devo ter repetido isso uma ou duas vezes. Foi mais? Não me importa. Isso anda acontecendo com frequência, também. De chover, de falar e de esquecer segundos depois. Me pego pensando e as mãos voltam a formigar precisando de algo que as ocupem.
Por isso peço, por favor, não desocupe minhas mãos.

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